quinta-feira, 27 de maio de 2010

Deveríamos ser Heróis?

Na sala de reunião de uma multinacional o diretor nervoso fala com sua equipe de gestores.

Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça: "ninguém é insubstituível" .

A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.

Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça.

Ninguém ousa falar nada.

De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:

- Alguma pergunta?

- Tenho sim.

-E Beethoven ?

- Como? - o encara o diretor confuso.

- O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven?

Silêncio.....

O funcionário fala então:

- Ouvi essa estória esses dias contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso.

Afinal as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro da organização e que, quando sai um, é só encontrar outro para por no lugar.

Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico? etc...

Todos esses talentos marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E, portanto, são sim insubstituíveis.

Cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa.

Está na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento da sua equipe focando no brilho de seus pontos fortes e não utilizando energia em reparar seus 'erros/ deficiências' .

Ninguém lembra e nem quer saber se Beethoven era surdo , se Picasso era instável , Caymmi preguiçoso , Kennedy egocêntrico, Elvis paranóico ...

O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos.

Cabe aos líderes de sua organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços em descobrir os pontos fortes de cada membro. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

Se seu gerente/coordenador , ainda está focado em 'melhorar as fraquezas' de sua equipe corre o risco de ser aquele tipo de líder/ técnico, que barraria Garrincha por ter as pernas tortas, Albert Einstein por ter notas baixas na escola, Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria perdido todos esses talentos.

Seguindo este raciocínio, caso pudessem mudar o curso natural, os rios seriam retos não haveria montanha, nem lagoas nem cavernas, nem homens nem mulheres, nem sexo, nem chefes nem subordinados . . . apenas peças.

Nunca me esqueço de quando o Zacarias dos Trapalhões 'foi pra outras moradas'. Ao iniciar o programa seguinte, o Dedé entrou em cena e falou mais ou menos assim: "Estamos todos muito tristes com a 'partida' de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos:... . Ninguém ... pois nosso Zaca é insubstituível"

Portanto nunca esqueça: Você é um talento único... com toda certeza ninguém te substituirá!

"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo..., mas posso fazer alguma coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso."

"No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é..., e outras..., que vão te odiar pelo mesmo motivo..., acostume-se a isso..., com muita paz de espírito. ..".

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Meus comentários:

(Uma vez em uma empresa, ao treinar pessoas com perfil centralizador, usei a seguinte frase: "Um bom colaborador não é o insubstituível mas sim o difícil de se substituir" e após ler este texto, acredito ter lapidado ainda mais este conceito)

Interessante ver como, ao gerir um negócio e as pessoas que nele trabalham, temos que ter a sensibilidade para observar atitudes que variam das heróicas, passando pelas centralizadoras, terminando com as desleixadas e ter sabedoria para lidar com todas elas. Todas são igualmente tóxicas para a empresa e sempre fruto da gestão e posso dizer porque penso isso, porque acredito que cada colaborador responde de uma forma a uma determinada filosofia de gestão, ou seja, não podemos massificar isso, tratando todas as pessoas de forma igual.
Porém hoje, vou falar sobre o que desencadeia especificamente as atitudes heróicas:

O texto acima desmistifica mais uma das frases feitas, manipuladoras pelo efeito coibitivo e abusivo nos meios administrativos, principalmente nos altos escalões do "poder", onde muitos fazem uso dela para camuflarem a sua própria e humana mediocridade em algumas áreas, afinal, tudo não seremos ou teremos.

Aliás, é o cúmulo isso ainda ser dito, quando fica cada vez mais nítida a necessidade de se gerir com cuidado também, além do capital, o capital intelectual nas empresas, inclusive o balanço social quantifica isso.

"Dinheiro não leva desaforo"...nessa frase acredito ainda mais hoje, porque "o dinheiro" é também representado, além da matéria prima e dos produtos nos estoques, pelos chamados membros da equipe, no caso, o tal do substituível.

Afinal, no mundo capitalista, para a justiça geral e bem da nação, cada parte deve valorizar o que tem: a empresa, o seu valor monetário enquanto empregador, e o colaborador, seu recurso interno e força de trabalho.

Se uma empresa precisa de heróis, com certeza tem algo fora de foco ou na concepção, ou no objeto, ou na gestão, ou na operação, algo que somente quem tem poder de decisão, ou seja, o alto escalão, pode mudar.
O problema é quando estas pessoas, ao invés de fazerem a sua parte ou para obter resultados imediatos, acabam querendo arrancar a forceps o ilusório heroísmo de seres humanos como eles.

É bom para refletir!

Vamos ter a humildade de nos valorizar pelo que somos e tão somente!

(Desmistificando também a suposta contrariedade entre os conceitos de humildade e valorização!)

Assim como não tem almoço grátis os heróis também não existem!